Nem imagino onde eles estão agora,
Era mais fácil quando vestiam o pijama
e pediam a historia do elefante azul.
Parece que restou um cheirinho de talco
na almofada do quarto;
deve ser só impressão...
Nesse tempo, eu não tinha medo da noite;
ela era o telhado dos poetas;
as sombras eram apenas a franja.
mal aparada dos anjos.
A trava na porta me bastava.
Hoje as camas vazias me assustam.
Elas acusam o passar das horas
e denunciam a revoada dos pardais,
os meus pardais.
Já não posso abrir minhas asas sobre eles.
São pequenas demais para cobri-los,
frágeis demais para defende-los.
Ainda bem que me resta a prece.
Minha aliada nos dias de nuvens
e nas madrugadas sem fim.
Peço perdão pela insistência
mas reza de mãe é assim mesmo,
pura perseverança.
Que Deus abençoe minhas crianças
de barba na cara e calçado quarenta e dois
(o resto na vida é secundário e fica pra depois)
que as ilumine com seu sorriso
e, se preciso acione seu séquito de estrelas
(se tiver que usa-las prometo devolve-las)
E quando o cansaço me quiser já recolhida,
hei de poder sorrir pela missão cumprida.
Flora Figueiredo